Golos Truda
Golos Truda Голос Труда | |
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Cabeçalho da primeira edição russa, publicada a 11 de Agosto de 1917 | |
Periodicidade | Mensual/semanal/diária |
Sede | Nova Iorque (1911-1917), Petrogrado (1917-1918), Moscovo (1918), nenhuma (1918-1929) |
País | Estados Unidos, República Russa, República Socialista Federativa Soviética da Rússia, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas |
Orientação política | Anarquismo, anarcossindicalismo |
Idioma | Russo |
Publicações irmãs | A jangada |
Golos Truda (em russo: Голос Труда, em português: A voz do labor) foi um jornal anarquista russo.[1] Foi fundado por exiliados russos em Nova Iorque em 1911 e mudou-se para Petrogrado durante a Revolução Russa de 1917, quando os editores aproveitaram a amnistia geral e o direto de retorno para os dissidentes políticos e demais perseguidos pelo regime czarista. Ali, o jornal integrou-se no movimento operário anarquista local, advogando a necessidade duma revolução social por epara os trabalhadores e opôs-se a vários outros movimentos esquerdistas.
A toma do poder pelos bolcheviques marcou o começo da decadência do jornal. O novo governo tomou medidas cada vez mais repressivas em relação à literatura dissidente e, em geral, contra qualquer manifestação do anarquismo. Após alguns anos de publicação clandestina, os editores do Golos Truda foram finalmente expungidos pelo regime estalinista em 1929.
Começos
[editar | editar código-fonte]Após a repressão da Revolução Russa de 1905 e o exílio dos dissidentes políticos do Império Russo, os jornais russos em Nova Iorque cresceram e prosperaram.[2] Entre as florescentes publicações encontramos vários jornais e revistas políticas sindicalistas,[2] das quais Golos Truda fazia parte. Este último começou a ser publicado pela União dos Trabalhadores Russos nos Estados Unidos e no Canadá (em inglês: Union of Russian Workers in the United States and Canada) em 1911, inicialmente de forma mensual.[3] O jornal adaptou como ideologia o anarquismo na sua vertente sindicalismo, o anarcossindicalismo. Fusionou estas dous movimentos operários que emergeram do Congresso Anarquista Internacional de Amesterdão em 1907 e que chegaram à América do Norte através da influência do Trabalhadores Industriais do Mundo (em inglês: Industrial Workers of the World).[4] Os anarcossindicalistas rejeitavam a luta política nos orgãos estatais e o intelectualismo, considerando que os sindicatos eram as forças revolucionárias que iniciariam uma revolução social que findaria com o estabelecimento duma sociedade anarquista protagonizada pelo proletariado.[4]
Após o a vitória da Revolução de Fevereiro, o Governo Provisório Russo declarou amnistia geral e ofereceu-se a sufragar e cobrir os gastos do retorno dos russos exiliados pela sua oposição ao czarismo.[5] Assim, depois duma votação, toda a equipa editorial do Golos Truda deixou Nova Iorque e assentou-se em Petrogrado, onde continuaram o seu trabalho jornalístico.[6] Em Vancouver, a 26 de Maio de 1917, os editores, juntamente com os artistas Ferrer Center e Manuel Komroff e outras treze pessoas, embarcaram rumo ao Japão; depois de chegar lá iam para a Sibéria e dali finalmente atravessá-la até chegar à Rússia europeia.[7] Enquanto embarcados, os anarquistas tocaram música, deram conferências, representaram obras de teatro e até chegaram a publicar um jornal revolucionário, A jangada.[7]
Publicação na Rússia
[editar | editar código-fonte]Embora no princípio os bolcheviques não eram muito populares após a Revolução de Fevereiro–com o primeiro-ministro Aleksandr Kérenski, um liberal, a manter o apoio suficiente para sufocar um golpe de Estado, como o de Julho–aproveitaram a desordem e o colapso económico-social, as greves massivas e o escândalo de Kornílov para aumentar a sua popularidade e, posteriormente, controlar os conselhos operários, os sovietes.[8][9][10] Voline lamentaria a lacuna de quase seis meses entre a Revolução de Fevereiro e o estabelicimento do Golos Truda na Rússia, considerando-o «uma grande e irreparável demora para os anarquistas»; agora, afrontavam uma situação muito complicada, com a maioria dos trabalhadores a seguir o poderoso e consolidado Partido Bolchevique, cuja propaganda[11] tinha permeado por toda a sociedade operária e tinha dizimado os esforços anarquistas.[12]
Em Petrogrado, o trabalho da nova publicação foi auxiliada pela nascente União para a Propaganda Anarcossindicalista,[6] e o novo jornal aumentou consideravelmente o poder e força do movimento operário anarquista nessa cidade.[13] A sua equipa editorial incluia Maksim Rayevsky, Vladimir Shatov (o linotipista),[7] Voline,[3] Gregori Maksimov, Alexander Schapiro,[14] e Vasya Swieda.[15][16]
A primeira edição semanal foi publicada a 11 de Agosto de 1917, com um editorial que expressou e afirmou vigorosamente a sua oposição ao programa e tácticas dos bolcheviques, dos mencheviques, dos Socialistas Revolucionários de Esquerda, dos Partido Socialista Revolucionário e outros. Destacou também que a concepção da acção dos anarquistas socialistas não se assemelhava em nada à dos socialistas marxistas.[17] Declarou como o seu objetivo principal uma revolução que iria substituir o estado por uma confederação livre de «sindicatos agrícolas, sindicatos industriais, comitês de fábricas, comissões de supervisão e derivados por todo o país» de forma autónoma e autogestionária.[18] Esta revolução seria «anti-estatista nos seus métodos de luta, sindicalista no seu conteúdo económico e federal na sua configuração político-territorial».[18] Centrou a sua atenção nos comitês de fábrica, que tinham surgidos espontaneamente por todo o país após a Revolução de Fevereiro.[3]
As primeiras edições continham o que Volin definiria mais tarde como «artigos claros e definidos acerca da forma na qual os anarcossindicalistas concebiam as tarefas construtivas da revolução vindoura», citando como exemplos «uma série de artigos sobre o papel dos comitês de fábrica; artigos sobre a responsabilidade dos sovietes e outros acerca da maneira de resolver a questão agrária, acerca da nova organização dos meios de produção e acerca da permutação».[17] Publicou numerosos artigos sobre a greve geral mas também sobre as bourse du travail na França e acerca dos sindicatos.[5] O jornal começou a ser publicado diariamente durante três meses após a Revolução de Outubro desse mesmo ano.[6][12] Numa série de artigos, proclamou o mister de abandonar imediatamente a vanguardista ditadura do proletariado leninista e de permitir aos trabalhadores a liberdade sindical, de associação e de acção.[12]
Embora Golos Truda criticou com severidade aos anarcocomunistas de Petrogrado por serem «românticos e ignorantes das complexas forças sociais da Revolução entre os trabalhadores fabris de Petrogrado que apoiavam os bolcheviques», as ideais da União e do seu jornal eram consideradas inusitadas e tiveram pouco êxito inicialmente.[12] Apesar disso, o sindicato anarcossindicalista persistiu e continuou a aumentar a sua influência, focando os seus esforços através do jornal para chamar a atenção do público e fazer proselitismo, diferenciando-se doutras facções revolucionárias.[12] A circulação do jornal continuou a aumentar na cidade e na sua província, com fortes e arraigados colectivos anarquistas em Kronstadt, Oboukhovo e Kolpino, onde eram também celebrados encontros.[12] Em Março de 1918, os bolcheviques mudaram a sede do governo de Petrogrado para Moscovo e os anarquistas acompanharam rapidamente essa deslocação à nova capital, estabelecendo a gráfica da Golos Truda ali.[1][3][19]
Repressão e legado
[editar | editar código-fonte]A 9 de Novembro de 1917, o Conselho do Comissariado do Povo emitiu um decreto no qual transigia aos bolcheviques o controlo sob toda a imprensa e o poder para fechar jornais dissidentes.[20][21] Apos a supressão do Golos Truda pelo governo bolchevique em Agosto de 1918, G.P Maksimov, Nikolai Dolenko e Efim Yartchuk estabeleceram o Volny Golos Truda (em português: A força livre do labor).[1][22] No X Congresso do Partido Comunista Russo em Março de 1921, o líder bolchevique Lénine declarou a guerra à pequena burguesia e, em particular, aos anarcossindicalistas, o qual teve consequência imediatas: a Cheka fechou os locais de edição e as gráficas da Golos Truda em Petrogrado mas também a livraria do diário em Moscovo, onde todos seriam prendidos menos uma meia dúzia de anarquistas.[23]
Apesar da proibição do jornal, o grupo do Golos Truda continuou e emitiu uma edição final na forma de díário, em Petrogrado e Moscovo em Dezembro de 1919. Durante a Nova Política Económica (1921–1928), a sua livraria e editorial em Petrogrado lançou várias obras, incluindo obras completas do proeminente teórico anarquista Mikhail Bakunin entre 1919 e 1922.[3][24] Esta pequena actividade anarquista que o regime soviético tolerava findou em 1929, após a tomado do poder por José Estaline, fechando, de forma abrupta e violante, as livrarias do grupo Golos Truda em Moscovo e Petrogrado como parte duma acção repressiva.[3] O diário também foi suprimido pelo Departamento Postal (em inglês: Post Office Department) dos Estados Unidos, onde foi continuado por Khleb i Volya (em inglês: Pão e liberdade), de ampla circulação, publicado por primeira vez a 26 de Fevereiro de 1919, que seria proibido nos Estados Unidos e no Canadá pela sua posição política anarquista.[25]
O revolucionário russo Victor Serge–antigo anarquista, tornou-se bolchevique–descreveu Golos Truda como o grupo anarquista mais importante e mais influente de 1917, afirmou «no sentido de que era o único que possuia uma espécie de doutrina e uma valiosa agrupação de militantes» e disse que estes previram que a Revolução de Outubro «só podia acabar com a formação dum novo poder».[26]
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Anarquismo na Rússia;
- Dielo Truda, jornal anarquista de exiliados russos em Paris em 1925;
- Novy Mir, revista social-democrata de exiliados russos em Nova Iorque.
Referências
- ↑ a b c «IISH - Archives». www.iisg.nl. Consultado em 1 de maio de 2018
- ↑ a b Rischin, Moses (1977). The Promised City: New York's Jews, 1870-1914. Cambridge: Harvard University Press. p. 129. ISBN 0-674-71501-2. OCLC 3650290
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- ↑ «Opinion | Was Lenin a German Agent?». The New York Times (em inglês). 19 de junho de 2017. ISSN 0362-4331
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- ↑ Serge, Victor (1994). «Lenin in 1917». Revolutionary History. 5 (3)